segunda-feira, 31 de março de 2008

O AMOR É CEGO, SURDO, MUDO E MANCO.



Amiga, ontem fui a um blind date! A mulher não me conhecia, eu não conhecia a mulher e vice-versa. Como o amor é cego, surdo, mudo e manco, topei a armação e fui lá encontrar a moça. No caminho, fiquei imaginando a cuca chupando manga, sentada à mesa do restaurante. Mas homem - anota aí -, nunca deixa mulher passar em branco. Tem que conferir, nem que seja de longe e com um binóculo de visão noturna. Logo que cheguei à pizzaria, dei uma geral nas mesas e nada. Só casaizinhos púberes, comendo pizza e jogando azeitonas uns nos outros. Desacompanhada, apenas uma loira escultural sentada no bar. Seu homem deveria estar tirando água do joelho ou algo parecido. Porque uma mulher daquelas dando sopa, só em filme da Júlia Roberts. Mas não é que a beldade começou a gritar e agitar os bracinhos: - Dr. Rosetta, Dr. Rosetta! Como figura pública que sou, lógico que ela sabia quem eu era. Fui ao encontro da moça, beijei-lhe a mão, e a levei até uma das mesas. Que bela mulher aquela: traços delicados, gestos sensuais, inteligente, culta, bem informada e irresistivelmente confusa. No auge de seus 38 anos, contou-me que vivia com Peter, o seu cachorrinho Chiuauauauaua. Ficou alí, falando de sua paixão por Peter e de quanto estava feliz ao lado dele. Peter foi adquirido em um desses shoppings chics da cidade, pela bagatela de três mil e quinhentos reais. No mesmo dia em que terminou seu último relacionamento há exatos dois anos, a idade de Peter.

Desde que separou-se do marido, quando tinha apenas 24 anos, colecionou algumas paixões. Porém, nenhuma delas durou mais de 7 meses. Enquanto eu tentava levar à boca uma azeitona preta, usando apenas o poder da mente, ela contou em detalhes, sobre os pouco mais de 20 idiotas com quem tinha se relacionado na última década. Culpava-se de escolher sempre os homems errados. Uma romântica sonhadora que não sabia a difereçça entre príncipes e sapos. Então, resignou-se: chega de homens! Atirou-se de corpinho malhado e alma no trabalho, e se sentia muito feliz e realizada como sócia-diretora de uma agência de turismo, onde trabalhava 14 horas por dia.

Já estava me afogado em números a essa altura, quando a mão dela tocou a minha, um tanto lambuzada de azeite de oliva. Por um momento, pensei que passar 7 meses ao lado daquele monumento de olhos verdes não seria tão má idéia assim. Como profissional gabaritado que sou percebi também, naquele instante mágico, que meu encontro às escuras iria acabar em pizza e não na cama, como havia imaginado. Ela precisava da ajuda de um profissional. A pobrezinha não entendia nada de homens, esse serzinho tosco e básico, mais fácil de lidar do que um forno de microondas. A ignorância a fazia enxergar os homens como inimigos.

Imagens de satélite enviadas em tempo real ao meu smartphone revelavam uma mulher fria e calculista com o sexo tosco. Um relatório detalhado mostrava que, durante os momentos mais íntimos na alcova, a moça angelical à minha frente permanecia de olhos bem fechados. Os parceiros imaginavam estar lhe proporcionando o máximo de prazer. Mas a verdade é que ela cerrava os olhos porque não suportava ver homem nenhum feliz.

Ofereci meu cartão profissional e pedi gentilmente que ligasse para minha secretária no dia seguinte, marcando uma consulta. Ofendida, ela jogou um resto de fanta uva quente no meu rosto e saiu pisando duro. Foi aí que vi, saindo da bolsa Prada, made in 25 de março, um bichinho assustado, que mais parecia um rato de orelhas enormes. Era o coitado do Peter.